Mais uma jornada complicada. Tudo por causa do coração. Ele está magoado. Não sabe em quem confiar a não ser nele próprio.
As pessoas têm vindo a desiludi-lo, e isso é quase como espezinhá-lo. As pessoas que ele mais ama, aquelas que pensava que nunca o iam desiludir. E agora está triste, como nunca esteve antes, esperando um sopro leve e quente de alguém que saiba consertar corações. Ele parou agora mesmo. Já não o sinto. Apenas um vazio...

Pede um desejo. Queres ajuda? Eu ajudo. Diz que queres ficar comigo para sempre. Agora fecha os olhos e sopra.

Hoje não queria estar fechada dentro de quatro paredes. Sinto aquela necessidade íntima de viajar comigo própria. Conhecer locais onde nunca estive e absorver cada recanto das mais estreitas ruas por onde possa passar. Queria subir aos monumentos mais altos e sentir-me ainda maior e com mais história do que eles. Acho que o problema tem sido mesmo esse. O coração é tão grande, grande demais, para tão pouca história. Por isso, tenho de viver. E viver é lançar-me de uma ponte. É ir à Lua. É ir à luta. Por mim, não por ti, quero ir até ao fim do mundo. E vais ver-me lá chegar. Minúscula pela distância. Um minúsculo tão grande, que preencherá todo o meu coração e o sufocará de vida.

Tenho medo dos meus sonhos. Apenas porque sinto que eles nunca se irão realizar. Vejo a vida ultrapassar-me. As pessoas a irem com o vento, sobretudo as mais importantes. E eu continuo aqui, parada, com medo de avançar, apenas porque sou fraca. Sim, muito fraca.

Porque não deixámos que a nossa história se transformasse numa bonita melodia? Porque não escrevemos a letra da nossa canção, palavra a palavra, juntos? Porque não a cantámos e cruzámos e enlaçámos as nossas vozes como ventos distintos? 
Nada seria tão difícil como agora.

Podes sorrir. Podes rir e fazer-me rir. Podemos chorar juntos. Podes bater o pé. Podes ser diferente. Podes abraçar-me. Podemos nos beijar. Podes ser parvo. Podes fugir. Podes voltar... Como sempre fazes.


E a história repete-se, vezes e vezes sem conta. Todas as manhãs, envoltas em nevoeiro, ela olhava pela janela. A esperança no seu coração atingia o auge. Esperava e esperava, por alguém que cruzasse as baixas nuvens que cobriam o alcatrão ao longo da estrada por onde ele supostamente viria. Esperava e esperava, e acabava por desistir. Mas a história repetia-se. vezes e vezes sem conta. Todas as manhãs envoltas em nevoeiro.

"Eu vivo um refrão antigo, feito às pressas, plágio de uma bela melodia. Eu vivo um sonho toda noite, eu vivo a noite todo dia."

É este frio. Foi ele que te trouxe e é ele que te leva agora para longe de mim. Parece que nada mais importa. De facto, não importa. 
Partiste e levaste o meu coração contigo, e sem ele e sem ti, são as recordações, as melhores de todas, que aquecem o que restou de mim.