Aquele lugar tem algo especial. É como se entrasses num mundo completamente diferente, onde ouves apenas os pássaros a cantar e coelhos correm mesmo aos teus pés, ainda que assustados com a presença estranha. Gostava de te levar lá um dia, ao final da tarde. As sombras, soltas e inconstante, desenhadas no chão é algo bonito de se ver. Fazem-nos sonhar com algo que talvez possa nem existir mas que ganhou vida naquelas formas escuras que se vão modificando. Podíamos ficar a olhar o céu, por entre ramos e folhas de árvores, e dar as mãos para completar um qualquer ritual de amor. Podíamos ficar assim até ser noite, até tu teres de partir.

Já é tempo de viver um grande amor.

Olha para mim, olhos nos olhos. Deixa-me pegar na tua mão e levá-la até ao meu peito. Sentes o bater forte do meu coração? Agora sabes o que sinto de cada vez que o meu olhar cruza o teu.

Os ventos mudaram, e com eles um pouco de mim também mudou. Sinto-me bem agora, neste meu novo refúgio.

deixarei de te amar, quando no horizonte o céu não tocar no mar.


creo en ti

deixa-me falar-te de amor

Nesta era em que tudo é fabricado, em que nada é natural, em que nada é puro; em que os primeiros beijos se trocam por telemóvel, se fala por sms e os ditos «encontros românticos» acontecem no cinema, entre um balde de pipocas e um copo de coca-cola, nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; deixa-me falar-te de amor. Não quero falar deste «amor» novo, feito de «roda-bota-fora», que nasce podre e é vazio. Não te quero falar do amor para passar tempo, que se joga na Internet; nem daquele que se conhece num bar ou numa discoteca.

Não: deixa-me falar-te de amor como o conheço, da mesma forma lamechas e (hoje) tão fora de moda; a mesma que te ensinaram os teus pais ou os teus avós; como era antigamente, quando passeavam junto ao rio, por vezes de mãos dadas, e coravam ainda, se encontravam alguma cara conhecida. Deixa-me falar-te do amor que me ensinaste. O amor que me ensinaste começou por um acaso, porque, por acaso, eu estava sozinha e tu também. O amor que me ensinaste não foi cozinhado nem confeccionado a propósito.

No nosso amor, tu dás-me a mão e eu coro; convidas-me para sair e eu hesito; brincas com os meus caracóis e eu gosto; bebemos chá e ficamos ébrios; passeamos à beira-rio e pode ser que nos beijemos. No nosso amor, não somos só amantes, mas somos cúmplices. E companheiros. Olhas para mim e lês-me nas entrelinhas. Olho para ti e sei-te de cor. Sorrio e mergulhas nesse sorriso. Abraças-me e absorves-me inteira. Dizes-me «amo-te» e eu acredito.
O amor que me ensinaste é puro, é natural, é biológico, sem corantes nem conservantes. Mas deixa-me contar-te um segredo: nesta era, que já não é minha, já não é tua, já nem é nossa; o nosso amor, ainda encanta!

Ana Rita da Silva Freitas Rocha, in 'Textos de Amor – Museu Nacional da Imprensa'

É isto, acima de tudo, todos os dias.

A memória de uma despedida futura vem assombrar-me o pensamento. Sei que podes ter que partir a qualquer momento e a angústia que me consome é cada vez maior e mais forte. Na verdade, o meu maior medo não é a certeza de que irás partir um dia, mas sim a incerteza de não regressares a casa. Tenho medo de que a tua camisa, minha preferida, perca o teu cheiro. Medo de esquecer as expressões do teu rosto e o brilho do teu olhar das vezes em que fazíamos amor junto ao calor da lareira acesa. Por favor, não te deixes enfeitiçar por ninfa alguma no mar bravo, ou pela bebida em noites mórbidas. Permanece o homem por quem me apaixonei um dia, mesmo que a despedida seja para sempre. Depois do que passámos, deves isso a ambos. E mesmo assim, depois de tanto que já passámos, tenho medo que fique algo por dizer, algo por fazer.